“Eu calço é 37
Meu
pai me dá 36
Dói,
mas no dia seguinte
Aperto
meu pé outra vez
Eu
aperto meu pé outra vez”
(Raul Seixas- Sapato 36).
As vezes fico imaginando quantos sapatos apertados usamos
no decorrer de nossa vida, quantas vezes temos que apertar o pé em algum sapato
que não queremos, não gostamos e não estamos afim de usar...porem acabamos
sempre usando, mesmo que por pouco tempo.
Sempre tem alguém que quer impor suas próprias vontades
em detrimento da nossa, e por que será que aceitamos? Por que será que não
reagimos da forma que queríamos reagir, por que será que engolimos tantos
sapos. Por que será que na vida a maioria das coisas são impostas independente
da nossa vontade?
“Por que cargas dágua
você acha que tem o direito de afogar
tudo aquilo que sinto em meu peito” ( Raul Seixas) , por que sentimos a
sensação que somos donos de alguém e que sempre alguém deveria ser dono da
gente?
A liberdade está em sermos sempre o que queremos ser, de tomarmos nossas
próprias decisões, de seguirmos pelos caminhos que escolhermos, de escutar quem
merece ser escutado por nós, de falar com quem fala nossa mesma língua...
“Pai eu já tô
crescidinho
Pague
prá ver, que eu aposto
Vou
escolher meu sapato
E
andar do jeito que eu gosto
E
andar do jeito que eu gosto.”
Me lembro quando eu era criança, lá pelos meus onze ou
doze anos, isso mesmo, naquela época nessa idade ainda éramos crianças,
inocentes, puras e bestas, eu já queria colocar meus próprios sapatos, tomar
algumas de minhas próprias decisões, sentir o que queria sentir, mas ...tinha
que seguir as regras, tinha que seguir os conselhos de quem nem sabia viver
direito ainda, pois quem sabe viver, vive melhor, sofre menos, e o que eu
assistia era muito sofrimento, físico e psicológico, ou seja, como alguém pode
dizer como outro deve fazer se nem mesmo ele sabe como agir?
“Você
só vai ter o respeito que quer, Na
realidade
No
dia em que você souber respeitar, A
minha vontade.”
Respeitar a minha vontade era a frase mais escutada pelos pais e responsáveis, éramos
revoltados com tudo e com todos, não entendíamos o que nossos pais queriam de
nós, não sabíamos exatamente o que seria de nós se fizermos diferente do que
eles queriam que fizéssemos, curtíamos a vida da maneira que achávamos que era
legal, que era divertido.
“Pai
já tô indo-me embora
Quero
partir sem brigar
Pois
eu já escolhi meu sapato
Que
não vai mais me apertar
Que
não vai mais me apertar
Que
não vai mais me apertar.”
Um dia resolvemos calçar nosso sapato sem apertar, andar
solto pela vida, viver as aventuras que a vida nos prepara, amar as pessoas
simplesmente por amar, sem cobrança, sem condição, e até sem reciprocidade.
Resolvemos que andar com sapatos folgados ou até descalços, era a solução para
nossa felicidade, para resolver nossos
traumas, para aprendermos o que realmente é bom e nos faz felizes...
Mas aí parece que sentimos falta daquilo que antes era
nossa maior revolta, sentimos falta de alguém que nos ensine, que nos
direcione, que diga onde está o certo e onde está o errado, até aprendermos o
grande dom do discernimento sofremos barbaridades da vida que em sã consciência
não queríamos nunca ter passado. Vem a tona toda aquela sabedoria que os mais
vividos sempre demonstraram e que nunca valorizamos, que nunca demos o devido crédito,
vem em nosso pensamento aqueles conselhos que julgamos desnecessários e que
agora fazem sentido.
A vida as vezes parece ser injusta, ensina coisas que
parece que deveriam ser ensinada antes, que deveriam ter sido nos apresentada
de forma diferente e com mais clareza, mas será que isso não foi o que
aconteceu? Será que nossos pais também de alguma forma não passaram pelas
mesmas dificuldades que passamos quando não os ouvíamos , será que seus país
também não quiseram passar para eles todo o ensinamento necessário para que a
vida fosse mais bela?
Hoje, depois que a vida deu as suas lições, parece que
entendo mais as situações que, devido as circunstâncias, foram do jeito que foram.
Hoje sei discernir melhor o que devo e o que não devo fazer , hoje sei quando
devo lutar ou simplesmente me calar, pois tem coisas que não vale a pena nosso
esforço, hoje quando aconselho alguém que amo e não sou ouvido nem levo em
consideração, pois sei que é assim mesmo e cada um tem seu dia certo para
crescer e dar seu grito de liberdade, vai sofrer, mas faz parte da evolução de
cada um. Hoje quando vejo alguém tomando uma decisão que a meu ver já sei onde
vai dar, nem me preocupo muito, pois sei que mais cedo ou mais tarde o
aprendizado pelo sofrimento será inevitável e tudo se tornará melhor.
Só sei que um conselho nunca é demais ouvir, aprenda com
seus pais, por que a vida nem sempre dá uma segunda chance de aprender.
Até a próxima,
Carlos de Carvalho