15 de abril de 1990 - Me lembro
das minhas meninas pequenas ainda esperando ansiosas pelo coelhinho da páscoa,
que sempre deixava suas pegadinhas pela casa ensinando a como encontrar os ovos
de chocolate. Depois de encontra-los, nos arrumávamos e íamos para casa de meus pais
para o grande almoço em família.
Nos encontrávamos todos e era uma
festa, minhas irmãs e meu irmão e todas as crianças da família, e era uma
bagunça de chocolate, muita comida gostosa.
Me lembro que nessa época, quando
eram pequenas, os almoços em família eram muito divertidos, cada um trazia seu
prato preferido, aquilo de melhor que sabia fazer, ou então, levávamos e fazíamos
lá mesmo.
Quantas vezes fiz minha salada de
maionese, nhoque, gelatina colorida, torta de abacaxi. Era realmente um almoço
em família, havia troca de chocolates entre todos, e as crianças vinham
carregadas com muitos ovos que ganhavam.
Ficávamos o dia todo por lá, e no
final da tarde íamos todos com muitas sacolas para o ponto de ônibus, pois
ninguém tinha carro.
Aquele feijão do Seu Vitor, a
polenta da Dona Ana os frangos assados,
carne cozida de panela, saladas, bifes acebolados e todos os outros
pratos que fazíamos ali todos juntos, somente refrigerante e suco, não tinha
bebida alcoólica, era muito divertido.
Depois, o tempo passou, vieram as
novas tecnologias, as facilidades comerciais, as crianças cresceram e nasceram
novas crianças, alguns se casaram e tiveram filhos. E os almoços em famílias
mudaram um pouco.
A comida já vinha toda pronta,
somente uma pessoa fazia e todos compartilhavam , depois do almoço, sentavam se todos à mesa,
mas era para dividir as despesas, pois, como uma só pessoa fazia, somente ela
comprava tudo, e o restante da família apenas fazia o pagamento. Tinha muita
bebida, e de vez em quando saía algumas discussões de alguns que bebiam de
mais.
Começamos a ir embora mais cedo,
pois, cada um tinha seu carro e não nos reuníamos mais para pegar o ônibus
juntos.
O tempo passou, e os almoços mudaram
mais ainda, aumentou a quantidade de bebida, o barulho de som e as comidas
continuaram a chegar pronta. Já não conseguia comer a comidinha da casa de mãe,
que era tão bom, pois, meus pais já não cozinhavam mais. Não por
impossibilidade física, mas....porque já vinha tudo pronto.
Meu pai morreu, coisas mudaram
mais um pouco. E no começo do ano minha mãe também morreu. Nós éramos tão
unidos, que achei que mesmo assim continuaríamos a nos encontrar. Mas... ledo
engano. Já não nos reunimos mais, e dentro
da família se formou alguns clãs, e agora as reuniões são desses clãs.
O maior valor que sempre tive foi
a reunião em família. Família é o alicerce de nossa vida. Temos que preserva-la
a qualquer custo. Por isso, que em todas as famílias se tem problemas brigas,
mas todos se perdoam e se reencontram., tudo em prol da preservação.
Bem, isso foi assim um dia. Hoje
não é mais.
Esse é o primeiro domingo de
páscoa que passo sem a minha família, sem minha filha Dani e meu genro André, e
sem os meus garotinhos mais lindos. O ovos de chocolate deles estão aqui. Não
almoçamos juntos e não pude entregar seus ovos.
Hoje existem outras prioridades,
outras coisas importantes para se fazer.
E parece que a instituição
família realmente está a beira da falência.
Que pena, bons tempos, ficarei com as recordações. É o que
me resta.
Lourdes Carvalho